Cafarnaum - "Prepare-se para ficar perplexo"
Há muito que não via um filme tão forte em termos emocionais, psicológicos e com aquele murro no estômago de uma realidade que existe. Que nós sabemos que existe. Mas que no fundo, não sabemos o quão má, podre, desconcertante, desgastante, imoralmente real, triste, dolorosa, atordoante, impensável e infeliz pode ser essa realidade.
"Em tribunal, decidido a processar os próprios pais, Zain de 12 anos, pergunta por que é que eles o trouxeram ao mundo se não tinham condições, emocionais ou económicas, para cuidar dele. Em retrospectiva, num cenário de devastação e pobreza algures no Líbano, é revelada a sua história e as razões que o trouxeram ali.
Em competição pela Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes (onde mereceu uma ovação de pé e o Prémio do Júri), um filme dramático com assinatura da realizadora libanesa Nadine Labaki ("Caramel", "E Agora, Onde Vamos?"), nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. No elenco participam Zain Al Rafeea, Yordanos Shiferaw, Boluwatife Treasure Bankole, Kawthar Al Haddad, Fadi Kamel Youssef, Cedra Izam, Alaa Chouchnieh e também a própria Nadine Labaki."
Pobreza extrema. É a lei do desenrasca a fazer valer-se por si. É o não ter condições nenhumas. É o fazer o possível (e impossível) para tentar sobreviver sem saber o que na realidade deve ser viver. Surge um miúdo que de uma forma arrebatadora luta por alguma dignidade dos direitos humanos numa família que não tem a base para lhe educar sequer isso. Mas que ele não parece fruto da não educação que lhe deram. Que faz acreditar que há pessoas que têm um coração do caraças mesmo quando não têm nada, mas querem fazer ainda a diferença. E isto vindo de um miúdo é de partir o coração.
É assim que se fiquei no fim do filme. Arrebatada com tremendo aperto por uma história tão atordoante.
Este miúdo Zain, merece o melhor prémio pela desgastante personagem que faz. E sempre no melhor. Fantástico trabalho. Com expressões que nos tocam mesmo.
Valeu bem a pena.