Ontem mais um amigo comunicou que já já no próximo fim-de-semana vai para fora. Suíça, mais concretamente. Isto está vazio de tudo e a cada dia mais. Nada muito pensado, mais uma decisão em cima do joelho de quem está um bocadinho (grande) farto disto aqui, deste país que tinha tanto para nos dar ao invés de nos tirar. Hoje de madrugada partiram mais três primos meus rumo a Inglaterra, onde trabalham, vieram cá aproveitar uns diazinhos de férias, todos na casa dos vinte e poucos. Ontem um amigo voou para Berlim com 27 anos a ver se a coisa corre melhor que o que corria cá, com pouco mais do ordenado mínimo ao fim do mês e um curso superior na estante de casa. O meu irmão que os meus pais não vêem há uns bons meses tenta vir cá, mas depois quando se vive fora e já não se é sozinho, já tem que se administrar tudo, férias ao mesmo tempo, escola do miúdo, despesas… um amigo voltou para os Açores depois de vir cá passar o fim-de-semana. A minha madrinha não pôde abrir a sua casa na Páscoa como tanto gosta, porque aos quarenta e tal anos teve que se mandar à vida, também está lá em Inglaterra. No interior é pior. Troquei palavras com outro amigo que conta os dias para voltar a casa só lá para Agosto, também ele na Suíça. Falei com a minha cabeleireira de quem tenho saudades que também ela, de um momento para o outro com o homem e três filhos rumou à Suíça, “este país não é para quem quer ter três filhos e uma boa infância” disse-me ela antes de partir, agora diz ela que está lá bem, bem melhor que aqui e aqui agora só para férias e para ver os seus. Outro amigo actualizou à pouco o seu facebook com um "de viagem Lisboa - Cabo Verde até já familia e amigos". Um colega veio da Bélgica porque o trabalho acabou mas não vê a hora de voltar, diz que a partir de que pôs os pés fora, viu que cá não fazia falta nenhuma, só aos seus, mas isso é como todos. E tantos tantos mais que o fazem (já nem vou falar da minha ultima relação). Todos os dias. Todos os dias o café fica sem mais um. Nota-se tanto aí que tudo está tão diferente que acaba por muitas vezes nem apetecer sair de casa para encontrar tudo vazio. A maior parte foi-se. E tudo vai ficando tão vazio. É tanta coisa que se perde. É vazios que se criam nas páginas do nosso livro e que nada vai fazer com que se possa mais tarde escrever. Mas a verdade é que da maneira que isto está, Portugal vai acabar a escrever sozinho o livro da sua história, porque não é o querer abandona-lo é o ter oportunidades melhores fora e muitas vezes não é para melhorar apenas a qualidade de vida, é para ter vida e poder dar-lhe qualidade. Ninguém mais que os que vão gostavam de ficar, mas o dia-a-dia tira-lhes isso. E isto dói-me porque não só fico escassa dos meus cá, como tenho a consciência que eu posso ser a próxima. E isso dói-me caramba. Porque não quero.