Se alguém me dissesse lá nos inícios, que este dia ia chegar, eu não acreditaria.
Não foi fácil e nem o é. Por mais que já seja rotina, que já lá tenha tanto "Eu". Continua a haver dias nada fáceis.
Atentem numa coisa, isto é um abre olhos para aqueles que começam num trabalho novo e é difícil, às vezes as coisas depois descomplicam um pouco.
Continuo a lembrar-me como se fosse hoje a primeira vez que pisei aquela empresa. Consigo lembrar-me de logo no primeiro dia ter a noção de como aquilo seria passageiro, não passaria de um novo emprego que tinha aparecido por acaso mas que não era lugar para eu aguentar ficar.
Lembro-me tanto das primeiras peripécias. Lembro-me de cá chegar e chorar a dizer que não aguentava uma semana. Uma semana que passei quase sempre a chorar com os nervos, o stress e as peripécias. Quem diria. Estou lá há doze anos!
Lembro-me de poucos dias depois de lá ter começado a trabalhar o encarregado me dizer "em três tempos se não fores embora, ou tens uma panca como nós ou vais ficar com uma", hoje acredito que já tinha mas cada vez a panca dá sinais de piorar. Efeitos colaterais. Nada a fazer. O encarregado já foi embora mas agora afirmo, foi das coisas mais acertadas que me disse.
Lembro-me de não ter achado nada piada a só haver homens na empresa, não tinha ninguém com quem dar dois dedos de conversa feminina. E vinha de uma empresa equilibrada em géneros. Mas com o tempo percebi que foi a melhor coisa que me podia ter acontecido, uma pena não haver um achado no meio deles que me despertasse a alma, mas não. Ligações unicamente profissionais nestes doze anos.
Tenho mil e duas peripécias sempre para contar desta empresa que já me trouxe tanta coisa boa e algumas menos boas, o que é perfeitamente natural. Quem me segue há mais tempo conhece bem algumas peripécias que vos conto porque na sua maioria são mesmo de arrancar risadas.
São doze anos e isto realmente, tem dias que é de loucos.
Já chorei, mas já dei tanta risada boa, tanto com os funcionários, como com o boss, com os clientes (esta foi óptima), com os fornecedores ou mesmo com outros indivíduos que me aparecem à frente. Estou mais que atrofiada é certo. Fazer o quê?!
Continuo a agradecer por nos dias que correm, nesta crise que parece que ganhou raízes, ter trabalho. Continuo a agradecer as oportunidades que me vão sendo dadas. Continuo a resmungar todos os dias para sair da cama pela manhã, queixo-me pela cabeça massacrada com que chego muitas vezes ao fim do dia, bato o pé pelas vezes que ganho um cabelo branco por aturar gente que me tira do sério, dias há em que me revolto por ter tanta coisa nos meus ombros que às vezes me tira o sono, mas caramba, se ficasse em casa, se não tivesse trabalho, se fizesse parte da enorme lista de desempregados do país, aí sim o atrofio seria muito maior.
Como eu agradeço por ter trabalho. Dia após dia. Do muito que vem um dia ou outro que me apetece queixar... e ao ver tanta coisa ao meu redor não tenho de quê... as coisas vão-se ajeitando. Por mais que tenha dias na corda-bamba.
São doze anos de trabalho na mesma empresa. Como isto passa tão rápido, tão rápido mesmo, como isto é tão importante! Como me lembro tantas e tantas vezes disto quando pela manhã a caminho do trabalho venho a querer resmungar por ter precisado de uma grua para me tirar da cama. Mas... ainda bem. Continuo a chegar lá e a ter orgulho de ver que "aquilo" também já tem muito de mim.
Pensei não aguentar uma semana. Passaram doze anos!
É um exemplo de superar expectativas. De não desistir. De não ir pela primeira impressão. De superação. É realmente, um abre olhos.
Amanhã lá estaremos.