Ainda do Halloween e das criancinhas endiabradas
Esta loucura de querer copiar tudo. De querer festas e mais festas. De deixar ir as criancinhas fazer o que lhes apetece. Do incentivar. Do perdoem-me, não educar.
Não sou de halloween. Não gosto dessas americanices ou do raio que os valha.
Mas mais que isso, não gosto do que esconde o dia das Bruxas e das crianças que podem ser autênticos diabretes sem mão dos pais.
No meu tempo não era nada disto, quando muito havia uns bailes de máscaras e uma pessoa mascarava-se se quisesse ia para esses lugares reservados a isso e fazia-se a festa. Quanto a farinhas só se fosse esconder doces, dentro de bacias com farinha e haver jogos de ir lá com a boca amarfanhar até encontrar um doce e ficarmos besuntados de farinha.
Agora nada disso. Diz a tradição do outro lado do mundo que as crianças vão a casa das pessoas tocam à campainha soltam um "doce ou travessura" e a coisa rende-lhes uns rebuçados, uns chocolates, um docinho vá. Caso contrário a travessura passa por deitar farinha, ovos ou sei lá bem, mais o quê.
Cenas parvas.
Então Maria, lá por estares velhota não tens sentido de "humor"?!
No caso não. Podem vir lá com as chibatadas mas é uma brincadeira de muito mau gosto quando levada a sério e sem mão consciente de alguém.
Este ano, também me vieram tocar à campainha, e já por causa disso, no fim do trabalho tinha corrido os supermercados à procura de doces e notava-se bem o desbaste que tinham levado à pala da "tradição".
E eu dei, ofereci rebuçados e chocolates, aos meus vizinhos e pequenos conhecidos que lá vieram, vigiados por um adulto. Os pequenos bem diziam "doce ou travessura" mas pasmem-se nem farinha traziam para uma travessura que fosse.
Tudo na paz portanto e no doce.
Até que, já perto da meia noite, na minha rua, começaram a aparecer uns grupos maiores de crianças. Um basqueiro descomunal, nada de adultos com eles. Com pacotes de farinha em punho e o diabo no corpo. Tal e qual.
E é precisamente aqui que mora e começa a estupidez.
Tenho um vizinho (casal na casa dos setenta anos) que já no ano anterior, não estando em casa neste dia, levou com um ovo na fachada da casa. Fachada que devido ao seu pico grosso ficou manchada, nunca saiu a mancha do ovo. Este ano, voltaram à carga, sem tocarem na campainha, mandaram-lhe outro ovo à casa e com o basqueiro vieram cá fora ver o que se passava e as crianças fugiram todas rua fora. Por muito que limpassem logo, o amarelado do ovo não sai da fachada. Mas que brincadeira mais estúpida é esta?
Na minha rua há uma casas cujos habitantes são emigrantes e imaginam o que aconteceu? Ovo na fachada.
Outra vizinha que jura que não lhe tocaram à campainha levou com uma camada de farinha num cromado da porta que o estragou. Ficou completamente manchada.
Fora fazerem isso a velhinhos que a essa hora já iam no terceiro sono.
Ovos em relva que no dia a seguir fica um cheiro terrível.
Em minha casa não fizeram nada este ano, no ano passado deitaram-me farinha no carro, mesmo depois da minha mãe ter dado doces. Se este ano o fizessem juro que corria atrás e lhes enfiava a cabeça em farinha até casa. Mesmo.
Mas há tantas histórias... Só pensam na parte "engraçada"(?!) mas não pensam nas consequências.
Na freguesia vizinha, acharam por bem evoluírem das farinhas e ovos, e com tintas deixaram marcas...
É claro que nessa situação acredito que já sejam jovens que infelizmente têm a cabeça oca.
Não consigo contudo perceber, como é que primeiro àquela hora deixam aquelas crianças andarem por aí sozinhas a fazer o que lhes apetece. Não consigo perceber a graça que é encherem os carros de farinha, principalmente em dias de chuva que aquilo fica uma autentica bosta. Não consigo perceber como crianças de dez anos, mais coisa menos coisa, andam à meia noite a fazer este tipo diversão parva com consentimento dos referidos pais. Não consigo perceber como não há quem lhes chame à razão, para que, a coisa podia-se fazer só por bem e deixarem as travessuras para as suas próprias casas. Aquela cena do não estragar o que é do outro se não queres que estraguem o que é teu é muito fixe. E na loucura devia ser regra a partilhar!
Abençoadas sejam as excepçoes (ou a regra oxalá). Aqueles que vão naquela de não incomodar ninguém e trazer doces. Aqueles cujos pais vão ou pelo menos lhes incentivam a não serem um incomodo. Aqueles que sabem quais as horas decentes para as crianças andarem na rua ou para tocarem a campainhas. E pessoas idosas não se incomodam, muito menos a horas tardias.
[ Ah e quem nunca tocou numa campaninha a saiu correndo? Eu já, mas não sei se estão a perceber, não é a mesma coisa. ]
Se querem importar tradições. Importem a boa onda O respeito e a educação.