De repente ao olhar para o calendário dei conta que deixei passar uma data importante. No fim-de-semana fez nove anos que trabalho por aqui. NOVE anos. Lembro-me tanto das primeiras peripécias. Lembro-me de cá chegar e chorar a dizer que não aguentava uma semana (um abre olhos para aqueles que começam num trabalho novo e é difícil, as vezes as coisas depois descomplicam um pouco). Lembro-me de poucos dias depois de cá ter começado a trabalhar o encarregado me dizer "em três tempos se não fores embora, ou tens uma panca como nós ou vais ficar com uma", hoje acredito que já tinha mas cada vez a panca dá sinais de piorar. Efeitos colaterais. Nada a fazer. Lembro-me de não ter achado nada piada a só haver homens na empresa, não tinha ninguém com quem dar dois dedos de conversa feminina. Com o tempo percebi que foi a melhor coisa que me podia ter acontecido, uma pena não haver um achado no meio deles que me despertasse a alma, mas não. Ligações unicamente profissionais e aliás são do mais educados e respeitosos possíveis. Acho que só uma vez alguém me "picou" pelo facto de estarmos em “patamares diferentes” e eu ser mulher. Foi uma situação pontual e nunca mais senti o que quer que fosse em relação a isso. Lembro-me de quando entrei para aqui um funcionário não me largar o pé. No início deixei andar porque pensei “é novidade isto passa-lhe”. Acabou por não lhe passar e ele levou uma repreensão não só do boss como de todos. Acabou por sair da empresa mais tarde. Não directamente por esta situação até porque nunca foi uma situação de extremos mas cheguei a rir-me com as fotografias que me enviava de gatinhos e flores para o telemóvel do trabalho. Tenho mil e duas peripécias sempre para contar desta empresa que já me trouxe tanta coisa boa e algumas menos boas. São nove anos e isto realmente é de loucos. Já chorei, mas já dei tanta risada boa, tanto com os funcionários, como com o boss, com os clientes (esta foi óptima), com os fornecedores ou mesmo com outros indivíduos que me aparecem à frente. Estou mais que atrofiada é certo. Fazer o quê?!
Continuo a agradecer por nos dias que correm, nesta crise que parece que ganhou raízes, ter trabalho. Continuo a agradecer as oportunidades que me vão sendo dadas. Continuo a resmungar todos os dias para sair da cama pela manhã, queixo-me pela cabeça massacrada com que chego muitas vezes ao fim do dia, bato o pé pelas vezes que ganho um cabelo branco por aturar gente que me tira do sério, dias há em que me revolto por ter tanta coisa nos meus ombros que às vezes me tira o sono, mas caramba, se ficasse em casa, se não tivesse trabalho, se fizesse parte da enorme lista de desempregados do país, aí sim o atrofio seria muito maior.
Como eu agradeço por ter trabalho. Mas se aguentar mais um ano, acho que no mínimo tenho direito a um busto em minha homenagem à entrada das nossas instalações.
São nove anos de trabalho na mesma empresa. Como isto me sabe bem, como isto é ouro, como isto passa tão rápido, como isto é tão importante!