(o vidro do carro não está embaciado, é mesmo gelo)
A vida não é fácil para quem não tem garagem para o carro morando ali um bocadinho abaixo do Pólo Norte.
Hoje acordo com um solzinho a entrar pela janela. Primeiro pensamento “segundo dia sem chuva, oh yeah!”
Ligo-me às redes sociais e aparece a foto de uma vizinha encapotada até às pontas do cabelo, com o nariz vermelho com a legenda “cá gelo”.
Tudo para o dia correr bem a partir do momento que, depois de oitenta e sete voltas tens a coragem de pôr um pé fora da cama e sentes que acordaste em pleno Pólo Norte. E o meu quarto até é quente, tão só por isso, quando me lanço para fora do quarto, acordo para a vida. Isto até abrir a porta de entrada da casa e reparar que está tudo coberto com uma fina camada de gelo. Tudo branquinho e levas com uma aragem capaz de te congelar até os pêlos do dedo mindinho cuja cera não agarrou da última vez que foste à depilação.
Coragem Maria, coragem.
Eis que me aproximo do carro e ele completamente congelado. Portas coladas e branquinho. Maravilha pensei, já com o nariz a ficar vermelho ali entre o ataque de querer mandar o trabalho às favas e ir-me enfiar novamente no quentinho e o lá terá que ser. Tenho a sorte de ter uma mangueira ali a postos perto do carro. Tive foi o azar assim que me aproximei dela reparar que tudo estava congelado, incluindo a água que não saía nem à lei da bala (ou de eu rezar a todos os santinhos).
Tenho também a sorte de ter um tanque por perto, que por acaso até tinha alguma água e esperava-me um balde à beira.
Coragem Maria, coragem.
Imaginem as vezes que fiz o exercício de lançar baldes de água ao vidro do carro, até fiquei com calor antes mesmo de conseguir entrar no carro. E ligar as escovas do só para as estragar mais um pouco, mas foi assim que consegui tirar metade do gelo do vidro dianteiro. O da minha parte.
E assim me meti à estrada. O carro marcava zero graus (intermitente - alerta de gelo - sério?!), um sol lindo e o gelo nos vidros a descongelar pelo caminho. No vidro atrás não via nada completamente cheio de gelo assim como de lado. Tive a sorte de conseguir baixar a janela do outro lado uns cinco centímetros e foi o meu campo de visão para me lançar à estrada. Nas serras? Neve. O dia ainda agora começou.
Coragem Maria, coragem. Tu sabes, a vida não é fácil para quem mora ali um bocadinho abaixo do Pólo Norte.