Cenas de uma quarentena!
E a sanidade mental?
Às vezes dá medo. Às vezes custa mesmo acreditar que tudo vai ficar bem, até porque, nós sabemos que não ficará para todos, tudo bem.
Às vezes dá medo. Mesmo ali por trás do enorme sorriso com que abres a porta assim que sais do quarto pela manhã para enfrentar o mundo. Nem que seja esse mundo que fica fora de portas, mas que ajudas a segurar aqui dentro de casa junto com os teus. Ou pelo menos por eles. Por nós. Pelo outro.
Às vezes dá medo. Como as coisas se processam agora rápido demais. Como se perdem vidas, como se magoam pessoas, como nos sentimos incomodados com um simples passo fora de casa. Como não sabemos bem lidar com os outros. Como olhamos de cabeça baixa para os outros.
Às vezes dá medo. Saber que nada será assim como sempre foi. E que para chegar lá perto sabemos nós o que caminho que temos a percorrer, as pessoas que não vamos ver e as pessoas que se vão afastar.
Às vezes dá medo. As histórias que nos chegam. As vidas que se continuam a perder. E o esforço que continua a ser feito.
Às vezes dá medo. Mas temos que começar a enfrentar, fora de portas o inimigo invisível. Com cuidados. Mas na fé e na esperança, ainda que com medo.
Às vezes dá medo. Toda esta saudade de gente, de normalidade, de querer ir passear, de férias, de ir jantar, de conviver, de reencontros, de visitar família, mas sobretudo de abraços sentidos.
Foram dois meses daqui. A olhar pela janela e a tentar acreditar vai ficar tudo bem. Mesmo que, com medo e a saber que não vai ficar assim tão bem para todos.
Voltaremos. Ainda a medo. Voltaremos a tentar ser fortes. A tentar manter a normalidade. Convictos que isto vai passar e na esperança de também nós fintarmos esta ameaça invisível que está por aí, em todo lado. A tentar continuar a proteger os nossos. Com essa força que nos fará ser mais nós. E que sejamos mais conscientes. Resilientes. Melhores pessoas - a olhar o próximo e a diminuir a proporção do nosso umbigo.
Estamos sempre a aprender. E esta é mais uma fase de aprendizagem que ficará na nossa história. Na minha. Na tua. Na dos nossos.
Hoje ao 63º dia, é talvez o meu último dia de teletrabalho e segunda-feira provavelmente já sairei de casa a tentar voltar à normalidade que tanta falta me faz. A tentar voltar a uma rotina fora de portas. A tentar ir - mesmo que em dias com medo. Eu sei, mas também sei que o importante agora é ir, mesmo com medo.
Coragem Maria, coragem. Tu sabes, a vida não é fácil para quem mora ali um bocadinho abaixo do Pólo Norte - mas desta vez - a acreditar que vai #ficartudobem - a vida não tem sido fácil para ninguém, por este mundo fora principalmente àqueles que continuam lá, na linha da frente. Por todos nós. E depois por eles.
Sanidade mental desse lado, como está a correr isso?