Nem tudo o que reluz é ouro.
O Sapo noticiou:
“Angola o fim da miragem – Se alguma vez existiu um Eldorado em Angola, tinha pés de barro e desmoronou-se. Veja os gráficos.”
Confesso, não fui ver os gráficos porque nunca me dei muito bem com eles, no entanto mesmo sem ir ver (e eles até podem falar de alhos e eu de bogalhos) percebe-se. A fartura é demais e tudo o que é demais sobra. Angola foi um país que nos últimos anos deu pão a muita gente. Essa é que é essa e foi uma era em que no mundo a emigração estava em forte expansão. Portugal de seu exemplo foi talvez dos países que mais levou para Angola trabalho e mão-de-obra. Mas sempre a levar, e vai mais um, e vão mais cinco, e vão dois mil e pronto, está visto. Quem não tem um familiar, ou amigo, um vizinho, famílias inteiras que nos últimos anos mudaram-se para Angola? Mas no início até os ordenados eram "dourados" mas agora após a crise (principalmente na construção) há portugueses que foram para lá ganhar o que ganhavam ali em Espanha e que vinham todas as semanas a casa, enquanto agora se tiverem a sorte da empresa pagar viagem vêm umas três vezes no ano. E a verdade é que estava fácil de ver que o “Eldorado” ia acabar não tarda nada e depois quiçá de uma maneira trágica apanhando muito bom português desprevenido. É que nós gostamos do “até às ultimas”. E depois às vezes é tarde e é o salve-se quem puder.
Basicamente o que leva à ruptura, à falha dos investimentos, à diferença do que é programado no papel e depois na prática… é a enchente de procura no que “está a dar no momento”.
Vejamos a agricultura. Já alguns anos seguidos que temos os incentivos à agricultura, que estão em franca expansão, que estão a fazer aumentar números em Portugal, que estão a aumentar os níveis da exportação, a baixar números de desemprego criando postos de trabalho, a aumentar produto português. Temos o programa de incentivos até 2020. Mais cinco anos e a continuar assim qualquer dia há mais jovens agricultores que campos de cultivo. Não se deve acabar com isto mas tem que se acalmar e verificar o que é consistente de ser aprovado.
Vendas pela internet cresceram nos últimos anos muito em Portugal, noticiam, mas também quando vamos “googlar” até nos perdemos nas ofertas de vendas. E muitas vezes nem se consegue fazer uma boa selecção porque chega a ser cansativo ser selectivo em tanta oferta. Com valores por vezes tão diferentes uns dos outros basicamente no mesmo tipo de produto.
Eu trabalho num dos sectores que já foi o “Eldorado” do país. E a verdade é que lembro-me de em criança ouvir falar nisto como um “trabalho que nunca mais acaba”. Nos dias de hoje não é bem assim. Há trabalho? Há. Muita exportação, porque em qualquer parte do mundo conhecem este sector. Mas então o que está a deitar o “Eldorado” deste sector abaixo? A fartura é demais e tudo o que é demais sobra. É isto. Numa altura em que isto “dava dinheiro” (basicamente o que interessa) começaram a criar cada vez mais empresas do mesmo e vai se a ver nos dias que correm são mais que as mães. Umas muito grandes, outras médias e as pequenas que existem ao virar de cada esquina. Tropeçamos uns nos outros. Não há espaço para todos e vamos indo até às últimas à espera que caia o vizinho antes que o nosso mal venha a caminho. Tal e qual. Há quem se aventure em novas? Há. Vai sempre haver.
E depois diz-se que “o Eldorado tinha pés de barro e desmoronou-se” e pior que dizer-se é sentir isso. E vai na volta nos próximos tempos até eu sou mais uma emigrante quiçá a tentar procurar um eldorado por aí que ainda não se tenha desmoronado. Não se prevê nada de bom. É o que é. E portugueses por esse mundo fora é o que não falta. Mas faltando trabalho para os dos próprios países que irá ser dos outros?
Como já disse, a fartura é demais e tudo o que é demais sobra.