Até à data, e com quase um ano de pandemia, duas vezes em teletrabalho (67 dias no primeiro, 50 dias no segundo), meses sem ver família que estamos habituados, meses sem sair com amigos, meses sem ir jantar fora, meses a arranjar-me só para ir às compras quando estritamente necessário e trabalho presencial na pior fase da pandemia - assim resumidamente em quase um ano passado das nossas vidas:
- concluímos à partida que sairíamos desta pandemia melhores pessoas, mais resilientes, mais atentos ao próximo, mais bem dotados de valores - mentira.
- houve uma altura em que açambarcaram tudo e mais alguma coisa, mas o papel higiénico ficará para toda a história.
- o teletrabalho é o caos. Psicologicamente terrível. Não conseguir "separar águas" em local físico. Nem horários. Nem desligar-me do trabalho quando tinha mesmo que ser. Saltar a parte de "levar trabalho para casa" para o "ter só trabalho em casa" efectivamente.
- perder o fio à meada e ver na balança uma inimiga. Dedicar-me mais à cozinha mas só para aprender a fazer bolos - quem passou pelo mesmo sabe - enraizou-se e faço muitos mais bolos agora que em todo o outro tempo que me conheço.
- descarregar stress em quem não se deve. Normalmente tenho uns vinte minutos de viagem do trabalho até casa. E quando estou num dia mau, tento que nesse tempo liberte os demónios até que quando estacione em casa, os problemas não passem a porta. Em teletrabalho o medo é não os conseguir mandar pela janela!!
- há pessoas que não mais visitaram certa família, amigos, quem não tenha festejado datas importantes, quem não se pôde despedir num ultimo adeus de alguém próximo e que ficará para todo o sempre uma ferida irreparável (das feridas mais profundas desta pandemia). Quem tenha perdido o emprego, quem tenha visto a vida a dar uma volta e estar em dificuldades, há quem tenha perdido quase tudo. Há quem esteja na linha da frente há meses e que mesmo assim todos os dias tenha que sair de casa pronto para mais um dia de muita luta, desespero, e cansaço psicológico... enquanto ainda há quem faça festas, se junte com amigos e familiares sem máscara, quem visite a casa de outros para beber umas cervejas e zero distanciamento.
- há quem diga que o nosso sistema de saúde não vale um chaveto e no fim disto tudo dirá o mesmo, incluindo que os médicos só estão a fazer o seu trabalho!
- há pessoas que ao mínimo sintoma vão fazer o teste, há quem nunca chegue a ligar para a saúde 24 porque isto passa e isto não é nada - relativizando tudo o que é parar grupos de contágio.
- há quem ainda não saiba aquela diferença do que é fazer quarentena, fazer isolamento voluntário ou profilático e quem não sabe para que servem na verdade as máscaras.
- encontramos meios de combater o vírus mas comprovamos bem cedo que para a estupidez não há cura.
- Quem, (ainda) não tinha pensado que este tipo de gente seria também capaz de tentar dar o seu punho na altura da vacinação?
- ainda há, um ano depois, quem ache que isto não passa de uma gripezinha.
[- há mesmo um plano de vacinação? Dúvidas, dúvidas...]
- tenho medo do vírus, que tenho, mas tenho mais medo de pessoas.
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