Os corredores dos hospitais são-me frios.
Às vezes é quando olhas para alguém numa cama de hospital sem se puder mexer e que ali “ontem” estava tudo bem que és abalroada pela noção de que nada somos. De repente tudo muda. De repente nada és e nada podes. Agarraste à espera do “tudo vai ficar bem”. Às vezes, infelizmente, é nestes momentos que te apercebes que há uma infinidade de coisas absolutamente banais que te fazem preocupar todos os dias. Que te gastam tempo precioso. Que te tiram forças, sorrisos e lutas. Que te magoam. Que insistem em não te deixar dar o passo seguinte. Às vezes, infelizmente, é apenas nestas alturas que levas um safanão que te faz querer viver “isto” que nos é tão fugaz.
É quando olhas para alguém que não pode segurar a outra mão, que não pode mover-se sozinho, que não pode simplesmente ir até casa, sentar-se no sofá e ficar no seu silêncio, quando ontem tudo isso era tão quotidiano que te apercebes que isto dos segundos é um tempo demasiado contado e que se perde em "tic tac’s" que nunca vais entender. E nem vale a pena tentar. Tentar viver já é muito. Muito do pouco que grande parte das vezes se faz pela vida.