Quando se banaliza uma paixão.
Eu era sempre das últimas a sair daquele recreio já ao fim da tarde depois de me sujar toda a jogar futebol e cheia de arranhões. Eu, a Maria rapaz de sempre que só estava bem era a jogar futebol naquele campo de terra em que com quatro pedras maiores fazias as duas balizas medidas pelos nossos próprios passos aldrabados. Quando fui para o ciclo a coisa não foi diferente e já eu tinha uma paixão desmedida por jogar. Queria fazer parte de todos os torneios e não foi fácil me integrar em equipas porque não havia equipas femininas, mas já no liceu tive a sorte de ter um professor que curiosamente se tornou treinador de futebol, que me compreendia a paixão e ajudou-me a integrar equipas masculinas em torneios de escola. Até que fora da escola consegui mais tarde integrar numa equipa amadora e começar a "competir". Tudo me apaixonava desde o nervoso miudinho antes de entrar em campo, ao público, à emoção te ter a bola, de fazer golos, de tentar uma vitória. Até ao dia que tive que deixar. Deixei o futebol mas não deixei a paixão por ele. E clubes à parte. Gosto mesmo de ver grandes jogos de futebol. E continuo a ser aquela mulher, Maria rapaz que troca muitas saídas para ficar a "sofazar" e a assistir a um bom jogo de futebol. Claro que os da minha equipa são para se ver sempre!
Aprendi com tudo isto, que o futebol é um desporto de emoções mistas. E infelizmente não falo apenas de quando se ganha ou quando se perde. Falo de casos de violência. Aquilo que nunca, NUNCA, devia haver em torno de um desporto, em torno de jogos de futebol que é para ser vivido dentro de campo e sentido fora dele com o impacto de melhorar e apoiar o espírito jogado dentro das quatro linhas. Impensável então é aquilo que aconteceu em Alvalade. Umas criaturas em grupo que ao que tudo indica são "adeptos" do Sporting conseguirem entrar dentro do balneário dos jogadores e a torto e a direito despacharem a brutalidade de uma força sem inteligência envolta em cobardia sobre os jogadores, o treinador, a equipa técnica e as próprias instalações..
Aprendi também com isto, que naquela altura em que chegava a casa com os joelhos esfolados de ter caído enquanto jogava estava longe de imaginar que fosse possível os grandes jogadores pudessem chegar a casa, agredidos por gente que não podem ser adeptos. Adeptos não é isto. Não é. E aqui percebo porque é que o meus pais enquanto puderam não me deixavam ir ao futebol e incutiram-me até que aquilo não é para crianças. «Quando dá para o torto... é a torto e a direito.» Agora pensa.
A instituição também não é isto. Clubes à parte, porque sou adepta do Porto, sempre fui, sempre serei, mas com dois dedos de testa nego-me a compactuar com atitudes medonhas que merecem toda a minha repugnância perante tal acontecimento. Qualquer pessoa que goste de futebol não poderá entender o que ali se passou. Por isso, quem o fez, não pode ser adepto do desporto que é o futebol. Não se trata de ser quem são, trata-se de repudiar qualquer acto de violência, de monstruosidade, de agressão para com o outro ou outros. Sejam eles quem forem. Nada, mas NADA mesmo justifica violência e destruição. E isto tira qualquer brilho do futebol por muito que se goste. E quem gosta disto, não me venha com tretas, não gosta de futebol.
É de lmentar tudo o que isto envolve. Estou triste e estupefacta. E a preferir que ouvesse mais joelhos esfolados pelos tombos em campo. Há valores dos quais nunca se deve abdicar.
Nós, que temos em ombros o título de Campeões Europeus não merecemos isto. O futebol Português não merece isto. O Sporting instituição também não. Devolvam o Sporting aos Sportinguistas. Eles merecem. O futebol Português merece. Nós merecemos não assistir a situações destas.