Pensei não aguentar uma semana. Passaram dezasseis anos!
Fez ontem 16 anos que não pertenço aos "quadros" do desemprego... como costumo dizer já faço parte da mobília, esta é a minha segunda casa! E isto é uma típica relação normal. Altos e baixos. Quase desistências. E dias bons. Dias não. Luta dia após dia. Dias com menos fé e dias que só se olha para o futuro. Juntos.
Fui literalmente deitada aos lobos. Assim mesmo sem ninguém ali com paninhos quentes para "aliviar as fores", para enxaguar tanta lágrima que deitei e acalmar os nervos que aquilo me deu.
Não foi um inicio nada fácil. Foi muita coisa nova, foi, com outra idade, muita responsabilidade e foi muito olhar para o lado e ninguém para ajudar. Foi um "desenrasca-te". E durante muito tempo foi basicamente isso desenrascar-me todos os dias, panicando muitas vezes com os nervos e o stress a tentar lidar com tudo e a tentar ser capaz. Falhei muitas vezes com certeza mas tentei sempre dar o meu melhor e ser melhor. Acho que consegui. Nunca pensei estar aqui no hoje. Mas se estou deve-se à minha luta, perseverança e coragem. Porque foram muitos dias a aguentar o barco em dias não. Mas depois há os dias bons e a equipa que entretanto se tornou a melhor equipa e ambiente de trabalho na maior parte dos dias.
Afirmo novamente:
Atentem numa coisa, isto é um abre olhos para aqueles que começam num trabalho novo e é difícil, às vezes as coisas depois descomplicam um pouco. Às vezes vale a pena não ir pelo caminho mais fácil - desistir.
É uma empresa de loucos, digo-o tantas vezes. Mas isto é família.
E eu continuo a agradecer por nos dias que correm, nestas crises que fui ultrapassando, ter trabalho. Agradeço as oportunidades que me vão sendo dadas. Continuo a resmungar todos os dias para sair da cama pela manhã, queixo-me pela cabeça massacrada com que chego muitas vezes ao fim do dia, bato o pé pelas vezes que ganho um cabelo branco por aturar gente que me tira do sério, dias há em que me revolto por ter tanta coisa nos meus ombros que às vezes me tira o sono, às vezes mando o boss (ou outros) abaixo de Braga (psicologicamente ou baixinho é certo) mas caramba, se ficasse em casa, se não tivesse trabalho, se fizesse parte da enorme lista de desempregados do país, aí sim o atrofio seria muito maior.
Um dia destes ouvi o Pedro Ribeiro (que admiro e ouço todas as manhãs) da Comercial dizer que o trabalho é importante mas enquanto director sempre tenta passar às equipas que o mais importante da vida deles tem que estar para fora da porta da rádio e que é preciso que as coisas corram bem lá dentro mas que cá fora a vida tem que ser ainda mais importante e têm que zelar por ela. E senti aquelas palavras, senti que estou no sitio certo porque aqui passa-se exactamente a mesma coisa. Trabalho com pessoas que se preocupam, que me tratam como família, que assim que digo que preciso sair dizem vai. Que são compreensíveis. Que me trazem pela manhã croissants, donuts e bolos. Que se estou mal é em casa que devo estar e nem preciso de papeis a justificar. Que levam a sério isto das relações e são humanos. Percebem o que eu digo?
E é isto. Pensei não aguentar uma semana. Passaram dezasseis anos!
É um exemplo de superar expectativas. De não desistir. De não ir pela primeira impressão. De saber que o ceder tem que partir de ambas as partes. De superação. É realmente, um abre olhos.
Às vezes tenho saudades da menina que aqui chegou cheia de esperança no olhar e uma inocência própria dos vintes. Mas o trabalho molda-nos, faz-nos crescer, ganhámos calo de muitas situações e formamos a nossa personalidade a cada novo dia.
Venham mais!
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