Do meu Natal. Do sentido. Do coração. Dos valores.
Eu sempre adorei o Natal. Sim se me perguntarem por memórias. Tenho tantas. Boas. Natal sempre me foi especial. O Natal na infância, quando toda a família se juntava na mesma mesa, onde não existiam cadeiras mas sim bancos que arrastávamos naquele chão de cimento, junto aquela lareira de “céu aberto” naquela casa de pedra fria. Lembro-me de haver chocolates aos molhos. Rabanadas da tia, o Bolo Rei que ninguém queria a fava, aletria da mãe, sonhos, bolinhos de abóbora feitos pela vizinha como ninguém, pão-de-ló. After Eight(que desde então amo). Frutos secos dos mais variados em cada tigela. Lembro-me ainda hoje quando diziam “crianças vão espreitar ao andar de cima se já vêem o Pai Natal. Lá íamos nós, feitos tolinhos atropelar-nos nas escadas a ranger da velha madeira para nos aproximarmos da janela que por entre as vides deixava ver a entrada para a cozinha onde todos estavam. Lembro-me inclusive, de antes mesmo de querermos ver o Pai Natal, queríamos ouvir o som da bengala que sempre o acompanhava. A original bengala de madeira com campainha. Que frenesim. Na cozinha, das crianças eu a única rapariga. Eram os pais, o mano, os primos, os tios, as tias e a avó. A grande mulher. A grande Avó. Aquela que conseguiu com que estas memórias me sejam ainda hoje nostálgicas. Sim havia as meias que sempre se oferece, o pijama, ou mesmo os chinelos. As luvas, os gorros, os cachecóis. A roupa porque sempre foi o essencial e claro os brinquedos. Querem saber? A melhor prenda era estarmos ali. Todos. Sempre foi. Sempre será. Muito mais agora que já não o é. Faltou a grande mulher. Falta. E tudo mudou. Tudo. Menos os valores que me ensinaram. E esses sempre fizeram com que o Natal fosse a festa da família e nunca passasse a ser esse dia de comércio que cada vez mais querem fazer. Ainda hoje ou melhor ainda mais hoje o presente é secundário. Natal para mim é mesmo família. Talvez por sentir uma enorme falta de quando foi apenas isso. De quando havia família junta. Naquela casa. Talvez por sentir a falta daqueles cheiros que nunca mais foram os mesmos. Ou daquele calor da velha lareira. Dos pratos lacados ou das malgas da sopa das panelas pretas da fogueira. Ou mesmo porque hoje já não partilho a mesa com os primos, com os tios e tias, com a avó ou mesmo com o mano.
Talvez por isso eu não ligue a presentes. Os meus valores não mudaram. O Natal só me faz sentido quando à mesa consigo juntar um pouco do que acho ser Natal. E isso é raro e não há presente que me encha o coração desse vazio preenchido pela melancolia de saber o que é o Natal. Para muitos é a noite da troca de presentes. Para mim isso é secundário. De coração. E pouco ligo quando não recebo nada. Mas continua a doer quando não tenho os meus comigo. Muito.