"(Des)amores"*
" (...)
A verdade suprema dos amores que nos infestam os humores é esta: andamos quase todos atrás daqueles que não nos querem. Mesmo que estejamos com a pessoa certa, nem sempre nos querem como somos nem nós a temos como gostaríamos. Havias de mudar isto, havias de ser um bocadinho mais assim ou um bocadinho menos assado. E cá andamos, feitos gatos e ratos, agora fujo eu, agora foges tu. Contigo não quero, mas com aquela já era bom. Gosto daquele “tu” de há duas horas, este “tu” já não me agrada tanto. Extenuante e viciante em simultâneo. Por isso, não paramos e continuamos. Como se o levantar da cama dependesse disso mesmo. Hoje mais um bocadinho que ontem.
E depois há aquela sensação, que pode durar dois dias curtos ou duas vidas inteiras: as borboletas, o nervoso miudinho, as ânsias, os medos, o querer estar, o querer ser, o querer viver. Por muito que os corações de pedra que se desvendam em qualquer esquina nos tentem convencer do contrário, a vida é feita para amar.
Mentira? "
* Nelson Nunes na sua crónica em P3.publico.pt