Desafio de escrita dos pássaros #1
» Problemas, só problemas! «
O telefone tocou. Era uma mensagem: amanhã às 19 horas dar sangue. "Amanhã não posso" pensou.
No dia seguinte, na rádio, as notícias informam que no ano anterior a taxa de desistência dos dadores de medula quando são contactados aumentou. Ana absorveu aquela mensagem, também ela dadora de medula, e sentiu como que um aviso, uma chamada de consciência para os problemas que pode causar quando um dador, que são sempre os mais certos, não aparecem para fazer a sua dádiva.
O dia corria cheio de trabalho, atrasos nas reuniões. Cargas por fazer. Material por conferir. Mas aquela notícia não lhe saía do pensamento e achou que não ir à chamada para a doação, seria um problema na sua consciência a ter que resolver.
As horas passavam, a papelada amontoava mas ela já só pensava em sair a tempo. Era sexta-feira, o stress acumulado de uma semana em cheio estava a ganhar terreno, sendo quase dezanove horas e estando ela a cerca de vinte quilómetros do centro de recolha começou a sentir que ia falhar na sua missão.
Não desistiu! Passava pouco das 19 horas quando, atrapalhada, bateu à porta do centro na tentativa ainda de se sentir útil e fazer algo em prol de outros. "Sempre a tempo" ouviu e pensara que o maior problema do dia estava resolvido.
Ali, sentada à mesa após a doação a saborear o bolo de laranja e o sumo que lhe ofereceram para ganhar energias, o telefone toca. Do outro lado da chamada a mãe avisa que a tia se sentiu mal e fora para o hospital. O encontro seria lá.
Chegada ao hospital as notícias eram escassas e o tempo de espera foi caótico. Naquela sala de espera fria, vazia de tanto, num frenesim de entra e sai de pessoas.
Ali estava ela a sentir-se sozinha, sentada à espera, cansada do dia atarefado que teve e a pensar no quanto correu para fazer valer a pena, enquanto as dúvidas sobressaltam-na.
Há uma senhora que a questiona:
- Estou aqui à espera que a minha filha me venha buscar. Estive a levar uma transfusão de sangue, estou com uma anemia. E você?
- Eu estou à espera de familiares, estão lá dentro em observação - respondeu a Ana.
- E o seu braço?
- Ah, hoje fui doar sangue (...) há coisas do caraças.