Curtas desta vida
Os últimos dias têm sido tristes. Quando me estava a tentar curar de um murro no estômago, sofro outro. A minha família nas ultimas três semanas encontrou-se mais vezes que em muito tempo e pelas piores razões. Perder alguém já é difícil, perder duas pessoas com diferença de duas semanas é mesmo doloroso. É tu pareceres até que nem tens lágrimas para deitar e no entanto doer ainda com mais intensidade. É não veres cor. Luz. Ou sorrisos. Mas nem lágrimas. É doer em cada abraço e recebi muitos. Esta parte da família é mesmo muito grande e os abraços confortam sempre. E dei abraços. Dei colo. Segurei a mão. E silêncios. Sou péssima na dor. Na minha e na dos meus. Segurar a dor dos meus é ir só com eles na dor. Exatamente duas semanas após ter perdido alguém tão importante, sofremos outra perda. Não era o timing sabem? (como se pudesse escolher isto!) Como se fosse doloroso demais estar a fazer outra ferida onde a dor está ainda tão presente.
Há três semanas perdi a minha Madrinha. Há uma semana perdi o meu Tio. Tinha sempre histórias para contar, partilhávamos o amor pelo nosso Porto. Tinha sempre uma garrafinha especial para abrir quando nos juntávamos lá em casa. Adorava mostrar-me o que andou a fazer no quintal, era um engenhocas. Agarrava-me nos dois braços e piscava-me o olho porque dizia que só eu o fazia rir assim, isso e que já não ia a festas de ninguém a não ser que fosse o meu casamento. Foi pilar para a minha casa em momentos difíceis da vida. Fomos muito felizes naquela "cozinha de lenha" pequenina que tanto nos juntava. Sou uma alma antiga que adora ouvir histórias. Há coisas que não esquecem. E eu sou muito família.
Os dias andam tristes.
2025 vai lá com calma que estes apertos amassaram.


