“A Hora do Diabo”
Há realmente horas do diabo, aquelas em que se cometem loucuras, aquelas em que se testam limites, aquelas em que acreditamos ter que ser. Há realmente horas do diabo, aquelas que muitas vezes “nem ao diabo lembra”.
Ontem fiquei assim um tanto ao quanto estupefacta com a reconstituição que a tvi fez do ritual de uma praxe, pelos vistos, inspirada na “Hora do Diabo” de Fernando Pessoa e em que simboliza levar a ignorância para o mar, a passagem das trevas para a luz.
Pelos vistos, o ritual, leva os praxados a irem até à beira mar, à noite, onde alinhados, de olhos vendados surgem de costas para o mar, e então quem manda naquela merda toda é o, claro está, Dux que de frente para eles e para o mar, mais retirado, vai dizendo uma série de babujeiras e perguntas às quais os praxados têm de responder, ao que parece quem erra dá um passo atrás, estando cada vez mais perto do mar, de costas e também consta-se que podem estar de pés atados. E o ritual segue-se com muitas mais merdices que, penso eu, nem ao diabo lembra.
Isto tudo consta-se, pelos vistos, sim até podem fazer-se suposições, até podemos estar errados, mas sempre ouvi dizer, onde há fogo há fumaça, e que as praxes, sabemos todos nós têm o que se lhes diga tem.
Agora pensando que tudo isto é verdade, quem é a alma, que à noite se assujeita a abeirar-se do mar, de costas e olhos tapados? Quem é a alma que assujeita outros a esta ideia parva e fica a ver? Quem é a alma que aprova rituais destes, que, nem consigo perceber que prazer lhes pode dar?