É precisamente quando me ponho em frente à TV a cantar emocionada o hino de Portugal que tomo consciência que ali começam 90 minutos de sofrimento. Minutos de ansiedade, de dor, de falar alto, bater com a mão na mesa, a perna sempre a tremer e o roer psicológico das unhas. Ali começa um tic tac intermitente na minha cabeça que a cada segundo que passa me dá nos nervos e num calor miudinho que vai aumentando lá dentro. É um tal expulsar de nomes impróprios e de palavras pouco saudáveis para com aqueles que estão ali a representar-nos e muito mais para quem os escolhe. Chega de passar a mão na nuca a dizer está tudo bem, porque na realidade está uma merda. Eles até podem dar o melhor mas o melhor deles não chega. E a culpa é exclusivamente de quem os lá põe. Não é por termos o melhor do mundo que ele tem a obrigação de fazer tudo, não. Mas precisamos de mais. Uma selecção que tem já dez problemas físicos em jogadores não é normal. Algo está mal, muito aliás. Porque depois não sobram muitos, e dos que sobram convenhamos a Era deles já passou. Ontem tivemos uma selecção Americana a fazer entradas de ataque sempre pelo mesmo lado, porque à vista de toda a gente ficou o “não dou mais que isto” do Miguel Veloso. Não corre, não pressiona, não chega lá, não nos interessa. Como entramos em jogo com um Postiga em mau estado para 13 minutos depois sermos forçados a fazer entrar o Éder que devia era ter entrado de início? Como deixamos no banco um William Carvalho? Como é possível repetir erros, atrás de erros, mas os mesmos, é que nem nisso inovamos. Como é possível termos um Bento que faz-me lembrar os políticos, tendo o poder na mão está-se a cagar para ouvir os outros e o que ele quer faz. Mas mais que isso, como é possível termos uma federação que renova com o treinador antes mesmo de pôr à prova as suas capacidades?
Porra, nós adeptos, ligamo-nos à ficha. Saímos do trabalho mais cedo mesmo que isso nos faça perder mais uns euros no final do mês, ou mesmo que tenhamos que repor aquelas horas noutro dia roubando-nos um bocadinho mais do tempo que se passa com a família. Ficamos ali acordados mesmo que daqui a poucas horas o despertador nos faça sair da cama para dar no duro. Selecção, dar no duro topam? Sem massagistas para nos aliviar a dor de costas, sem piscina, ou jacuzzi. Sem empregados que nos façam a papinha toda e sem malucos a gritar o nosso nome, emocionados por nos ver apenas passar. Isto cá dentro dói. Dói a desilusão de ver que podemos mais, que conseguimos mais, que apesar dos pesares as capacidades podem dar para mais, mas não dão.
Portugal 2 x 2 E.U.A.