Este ano até passei a passagem de ano em casa. Por acaso até tinha passas. E até por acaso foi das primeiras vezes que me lembrei da ideia de fazer tudo direitinho. Subir para uma cadeira à meia noite e comer doze passas pedindo desejos.
Fiz tudo direitinho, pensei. E pedi saúde. Saúde.
Eis que se a despedida do ano foi dentro de uma constipação/gripe, mesmo sabendo eu que não sou de simples constipações, o início do ano, estando eu a auto medicar-me com o normal entre um ilvico e um bruffen, não melhorou muito...
Voltei ao trabalho mesmo que a vontade fosse de ficar ali só mesmo no quentinho. E aguentei. Aquilo que pensei ser uma gripe e fora de questão estava de ir às urgências por causa de uma simples gripe continuou ali bem presente, ate que no dia a seguir juntou-se aquela tosse seca, irritante. Mesmo assim evitei e aguentei até que na quarta, alem de já não ter dormido nada de noite, a tosse ficou mais funda, com dor no peito e nas costas e a falta de ar a sufocar-me.
Aqui achei que era melhor mesmo ter juízo e ir às urgências. E fui.
Pulseira amarela no pulso e uma reprimenda de todo o tamanho por causa da demora em ir lá. Mas então não dizem que isto está tudo entupido e não precisamos de vir para aqui com uma simples gripe?
Pois Maria, tu não tens gripe. Tens uma infecção. Na garganta, nas vias respiratórias e vamos la ver se não é tambémmais nada.
E é aí que a falta de ar que já tinhas te consome ainda mais. Nebulizações para as veias, penicilina de 2400 que ainda me dói pra tutu e injecção de betametasona (uma pequena bomba com cortisona para te dilatar as veias). O caso não foi simpático. Mas não me deixo ir na cantiga. Estive três dias sem pregar olho durante a noite por causa das crises da tosse e falta de ar e as mudas do pijama de madrugada. O dormir quase sentada e as horas a olhar para o tecto a enlouquecer com os silêncios. É muito mau mesmo tu quereres não ir abaixo, mas há factores que não consegues ultrapassar. Mais duas penicilinas e enviada directamente ao médico na sexta porque a enfermeira acha que a coisa não melhorou assim tanto mesmo depois daquela carga.
Toma lá mais antibiótico, anti-histamínico e a minha já quase esquecida bomba Pulmicorte, com cortisona.
Sim, e eu ainda pensava que era uma simples gripe.
Estou a recuperar, mesmo aqui um bocadinho abaixo do Polo Norte. Por entre chás quentinhos, mantinhas, descanso e muito carinho.
Sou uma mimada porque tenho mesmo gente que estão sempre aqui. Uma família maravilhosa e depois tenho vizinhos que são uns queridos. A minha rua é melhor que a tua, lembram-se? Uma vizinha de setenta e poucos anos um dia destes à noite tocou à campainha e trouxe um bolo rei e um vinho do porto para me ver. Um amigo trouxe Toblerone e conversa e assim se tem passado.
É difícil de explicar esta sensação de coração acelerado e de falta de ar que de repente aparece, quando na realidade tu até tens medo a cada inspira e expira de as coisas complicarem. Há mesmo coisas que não se explicam. E outras tantas que se guardam só para não preocupar quem está do lado.
Passas, vamos com calma sim?