Do nosso sangue a quilómetros de distância.
Eu não gosto de despedidas. Não gosto de ter que abraçar e ter palavras a dizer a alguém para minimizar uma coisa que não está a ser fácil.
Acho que desde que me lembro e me dou por gente tenho família no estrangeiro. Bem cedo aprendi a brincar no verão com os primos como se não houvesse amanhã quando voltavam à terra por uns dias. Desde bem cedo aprendi a lidar com as conversas e os abraços dos tios que nos querem bem, mas só nos conseguem ver uma vez por ano. Do mano e do pequeno que me fazem perder todos os dias tanta vida do que vivem. Podia portanto ter já calo nestas situações. Desenganem-se. A cada partida, a cada reviver de uma despedida a dor cá dentro volta. A saudade mesmo já antes de ir. E então agora, que a veia de criança foi-se juntamente com a inocência, o lembrar mesmo antes de partirem do que se vai perder, da incógnita de se para o próximo ano estamos cá todos. Essas merd@s que em criança choramos baba e ranho mas no dia a seguir passa e que agora temos consciência que as coisas às vezes não correm como nós queremos. Até porque os dissabores e as perdas que as distâncias já me trouxeram só o comprovam. Perdemos tanto uns dos outros. E pela lógica isto não deveria ser assim.
Na segunda-feira, quando ela se aproximou de mim com ciscos nos olhos e os braços abertos a dizer "ainda há pouco eramos uns miudos a brincar no fundo da rua, agora já sabemos o que é ter responsabilidades, uma delas é que tenho que ir porque o trabalho está à espera". E ficamos ali uns minutos entre as lágrimas e o abraço apertadinho de quem fica e de quem vai com tanto para viver junto. Foi a minha prima que me levava para todo lado, que crescemos juntas, que me ensinou tanta coisa, que a distância separou e que agora já tem família lá. E o ciclo é este, os filhos, o criar raízes e o vir para cá é cada vez mais uma miragem de um "talvez um dia, talvez nunca" que nos sufoca o abraço. Agosto termina hoje. O mês das férias. Hoje vão embora mais uns quantos.
Resumindo, porra para esta merd@ das distâncias, dos quilómetros de saudade, dos ciscos nos olhos e do coração apertadinho.