Nunca fui muito de pensar é pá tenho 30 anos. Este ano está a passar a correr e parece que ainda há pouco escrevi os posts “aos quase 30”. Voou. Agora é aos quase 31. Olhando para trás, não notei assim grande diferença entre os 29 e os 30. Continuo a não me sentir trintona. E como gostam de evidenciar isso! “Oh trintona”; “já tens trinta começa a apertar não é?”; “Trintona e filhos?”; “E casar”; espera lá “e namorado?”. As pessoas são mesmo chatinhas e até aquela tia que liga pouco depois da meia noite para desejar "bom ano e um gajo". Sério. Fora cenas destas… não me lembro, ou então esqueço-me muito rapidamente que as coisas estão neste patamar. Numa altura em que os planos deveriam ser outros, em que os hábitos deveriam ser outros, em que nada está muito bem definido, a não ser que quero é estar bem.
Dizia que aos 30 cortava o cabelo curtinho lembram-se? Não o fiz apesar de se quiser ainda ir a tempo. Mas não me parece. Continuo sem filhos. Sem uma casa própria. Sem aliança de casada no dedo e sem regras do que tenho que seguir. Mas penso, porque continua a ser inevitável não pensar nas coisas se tivessem sido diferentes.
Um dia destes fui jantar com a minha melhor amiga do tempo de escola. Temos vidas profissionais completamente diferentes. Infelizmente afastadas pela distância física mas apenas nisso. No entanto no que toca a namorados/maridos e filhos estamos quites. Falamos imensas vezes sobre isso, continuamos a partilhar as nossas aventuras, as nossas duvidas, os nossos desejos, os sonhos e os nossos medos. Temos a mesma idade, julgo-nos tão parecidas em muita coisa, principalmente em aproveitar a vida como podemos. No restaurante e porque já de vez em quando dá-nos na gana e vamos de cabeça fomos jantar o que nos apeteceu e naquele dia queríamos marisco. Jantamos muitíssimo bem, de entradas um polvo com pimenta doce que estava óptimo e depois um arroz de marisco que estava divinal. A acompanhar o belo do tinto maduro que não dispensamos. Estávamos bem, a rir da vida, a cuscar, a contar novidades, a rir do que é lamentável, a gozar com os desastres amorosos, a pôr a conversa em dia. Reparamos que numa outra mesa ao lado estava um colega nosso do tempo de escola. Demasiado ao lado para ele não nos ver, mas isso já são outros quinhentos. Estava acompanhado da mulher presumo e com uma miúda e outro homem. Cabisbaixo, como se não nos quisesse olhar. Comiam francesinha e estava uma garrafa de agua na mesa. Não quisemos fazer comparações, mas quando eu e a minha amiga olhamos começamos a rir, porque há ali uma diferença visível. A vida de solteira não é como a de casada, não venham com tretas, mas longe de mim querer dizer o que a de solteira é melhor. Ambas trazem-nos coisas diferentes que nem sempre dão para conjugar. Tem que se abdicar. Apesar de que acho canalha quando estão sozinhos conhecerem as pessoas e depois acompanhados encolhem-se todos.
Isto para dizer que, apesar de aos quase 31 terem ficado objectivos para trás, ou melhor, de lado, mas que continuam a ser objectivos de concretização pessoal para “amanhã”. Apesar de aos quase 31 me faltar ainda muita coisa… sinto-me bem comigo própria. Com o que tenho. Dou valor ao que consegui. Ao que andei. Ao que já vivi. Aos quase 31 penso que a vida está assim pelas minhas escolhas outrora mais ou menos felizes. Mas foram as minhas escolhas. Dentro de possibilidades que tive, de oportunidades que agarrei e outras tantas que desperdicei. E dentro de limites que me impuseram. Hoje continuo com muita liberdade e a ser feliz assim. Aos quase 31 há tanta coisa que me lembro. Tanta coisa boa, tanta coisa má. Tantas pessoas, lugares, momentos. Tanta saudade de quem já cá não está e de quem está longe. É pá são quase 31. E não é mau. É o amadurecer. O envelhecer. De mim e dos outros. Aos meus olhos e dos meus.