A verdade é que me acho tão bem em tanto e tao mal noutro tanto. Eu não sou lá pessoal de lamúrias. As coisas compõem-se mais cedo ou mais tarde, em tudo. É o ter que ser. E há coisas que às vezes nem sei como o estomago não embrulha e o coração não para de bater, mas acontece a todos e se não acontece, acontece a mim e basta. A verdade é que sou ombro amigo para tudo e gosto, tenho sempre teorias sobre as minhas experiencias práticas para partilhar com os outros, mas para partilhar comigo mesma é difícil. Mesmo naqueles monólogos. Fica ali uma linha que não é fácil de ultrapassar. Não sei lidar com questões minhas de sentimentos. Sou tão decidida para tanta coisa. A verdade é que falo para mim mesma que vai cair o Carmo e a Trindade mas na hora da verdade tenho um coração de manteiga que me atrapalha a razão e faço zero. Depois sofro com isto. Para mim. Talvez aquela barreira que inconscientemente crio com os meus sentimentos e com a minha vida para com outros seja ela própria para mim mesma uma barreira. Primeiro que alguém possa ficar do lado de cá, admito, é preciso muito. Porque sei que depois se algo corre mal fico mesmo triste, desiludida. Não consigo ver de longe. E é exactamente isso que acontece quando os que estão deste meu lado, que são tão poucos mas consideravelmente bons que custa cortar o laço. O laço do estar e falar não é que me seja difícil, porque é, mas faz-se, esse passo é o primeiro na desilusão e quando o decido a dar, dou, páro não falo mais como se ali alguém tivesse deixado de existir, mas depois quanto às outras pontas dos laços sou fraca. Sou fraca para não ter flashes de quando em vez, para não sentir saudades, para não pegar em coisas que não consigo deitar à vida, sou fraca a esquecer o que acho que não se esquece. Mas para mim. Porque no mau que sinto sou boa a disfarçar e os meus conhecem-me os sorrisos. E não é por eles não estarem lá, estariam se eu realmente quisesse, mas esta minha maneira de meter cá dentro tudo e lidar sozinha abalroa-me e não me deixa esticar o braço a pedir a mão. Depois vem dias em que só o acordar já foi do avesso e isso que está cá dentro acumulado exorciza-se em lágrimas e palavras menos boas para quem não merece. Só porque tudo abanou lá dentro e incontrolavelmente sou uma besta para comigo mesma e com os outros. Mas isto volta ao sítio. E volta a encaixar lá dentro tão bem que poucos vão notar estes espasmos da minha alma.