Dei por mim debruçada nas grades de uma cama, com os olhos a pesarem tal era o cansaço, a ser atacada por pensamentos e perguntas às quais faltaram-me as respostas...
Olhar alguém que em plena velhice nos transmite uma lição de vida sem dizer uma única palavra é dose!
Ali estava eu a admirar a força(que já nem se nota que tem mas ela está lá) de alguém quase no ir a tentar ficar por cá mais um pouco...alguém cujas marcas na cara são cada caminho de dificuldades ao longo de uma vida(e tem tantas!!), alguém que já pouco fala mas olha com uma enorme vontade de falar, alguém que já não consegue esboçar um sorriso, mas que cerra os lábios com uma firmeza transmitindo o sorriso que os nossos olhos já não contemplam...
Srª.G.: - Chega-te mais para aqui onde eu te veja melhor Eu - sem dar uma palavra, aproximei-me...
(...fez-se silêncio,mas como estava cansada e não queria cair na tentação de adormecer, debruçada naquela cama de hospital, pega-se na tipica conversa do tempo...)
Eu - E o dia hoje? deu solzito na janela não?
Srª. G. - (falando muito devagar) que dia! sabes hoje levantaram-me e levaram-me até lá fora...
Eu - Sério? que bom!, oh tempo que não dava para você ir até lá fora, e então que tal?sentiu-se bem?gostou...?
Srª. G. - (fechando os olhos) se gostei... sabes que dia bonito estava hoje! Sabes...que dia bonito estava hoje! Bonito mesmo! Fiquei um pouco e senti-me tão bem....aiii como eu me senti bem!!!
Como sabia o que tinha acontecido depois(...), deu um apertozinho cá dentro, caiu um silêncio em que nada consegui dizer...e ela rematou:
Srª. G. - Mas depois... depois comecei a sentir-me mal, sentir-me mal...veio o médico e tudo, porque fiquei mesmo mal...
Eu - Agora como está?
Srª. G. - ...melhor...
Eu - Então não pense mais nisso, pense em como o dia estava bonito...
É impressionante como as emoções em cada etapa da nossa vida são difíceis de se gerirem... como a simplicidade de um dia calmo, soalheiro, a simplicidade da natureza, as pessoas a passarem na rua... como isso pode emocionar uma pessoa? emocionar até fazê-la quase delirar? Será por talvez ter a percepção que se não foi o ultimo dia a ter aquela sensação será dos ultimos??
Costuma-se dizer que quando se perde as coisas é que se lhe dão o verdadeiro valor... Na velhice..., quando sentes que vais perder reconheces mesmo o verdadeiro valor das coisas mais simples... reconheces que o que antes era banalidade do dia-a-dia, na velhice é tão escasso que até custa acreditar...
so_risos para todos**